Nas últimas semanas, falamos várias vezes sobre o mesmo caso. De um país em pleno desenvolvimento industrial, mas ainda prejudicado pelo atraso tecnológico. Neste sentido, Durante o século XNUMX, existem muitos exemplos de fábricas nacionais trabalhando sob licença estrangeira. Enquanto governos ou consórcios privados finalizavam as linhas de produção, o próprio objeto se tornou uma realidade a partir de designs estrangeiros muito mais avançados. Essa lógica, aplicada ao automobilismo, tem expoentes bem conhecidos na Espanha. Da própria SEAT trabalhando com licenças FIAT para FADISA com a Alfa Romeo. Também passando pela história de Barreiros com a Chrysler.
No entanto, hoje não vamos continuar a mergulhar na história da Espanha, mas do Brasil. E, afinal, durante as décadas de XNUMX e XNUMX, suas economias tinham características semelhantes. Em primeiro lugar, ambos precisavam de um forte impulso. Tão determinado que o precário capital privado ainda não o poderia fazer, reservando a liderança automotiva para o músculo do estado. Assim, se na Espanha estava no comando a ENASA dos primeiros anos de Franco, no Brasil era a Fábrica Nacional de Motores fundada em 1942 por Gétulio Vargas.
Com um credo intervencionista, o FNM brasileiro passou a montar bicicletas, mas também motores de aviões, caminhões e até munições. Tudo o que é necessário para dotar o país de um mínimo em termos de transporte industrial, essencial para lançar a economia brasileira para além dos paradigmas da dependência. Nesse sentido, a comercialização massiva de motores diesel sob o capô de todos os tipos de vans parecia normal e correta. Um caminho que, anos depois, termina numa surpresa inesperada: a contratação da Alfa Romeo e o desenvolvimento de um desportivo nacional com uma curiosa semelhança com o Mustang. Estamos falando do FNM Onça.
FNM. DE CAMINHÕES A TURISMOS
Com o progresso técnico, a mesma história sempre acontece. Primeiro vem a mecanização do campo. Um avanço que libera um grande número de empregos na área agrícola, que são absorvidos pela crescente indústria urbana. Nesse ponto, as cidades começam a declinar com a mesma intensidade que as cidades a crescer. Uma mudança demográfica que, à medida que o crescimento urbano se instala, necessariamente traz uma economia mais diversificada. Justamente o ponto em que certos setores populares começam a se sair melhor graças à sua incorporação ao setor de serviços. Algo que o automobilismo entende muito.
Na verdade, na Espanha era um carro, o SEAT 600, o símbolo mais recorrente para ilustrar a decolagem da economia nacional e o surgimento das classes médias urbanas. Processo que também foi replicado no litoral brasileiro dos anos 50, onde o surgimento dessa população obrigou o FNM a ir além dos caminhões e vans. Uma atividade que vinha se desenvolvendo já que em 1949 ele assinou um acordo com a italiana Isotta Fraschini para a fabricação sob licença de veículos comerciais. Após o desaparecimento de Isotta, apenas dois anos depois, no início dos anos XNUMX, o acordo foi assinado com a Alfa Romeo da mesma forma que a FADISA fez na Espanha.
Porém, e ao contrário do caso do Alfa made in Avila, o caso brasileiro foi muito mais longe. E é que, no início dos anos sessenta, a FNM começou sob licença a produção de um sedan a cópia exata do Alfa Romeo 2000 cinco portas do momento.
Desta forma, e como na Espanha, a SEAT lançou o 1963 em 1500, o FNM atendeu com sucesso às necessidades de uma classe média em crescimento com a capacidade de consumo necessária para proporcionar um veículo amplo, confortável e útil para longas viagens de lazer. Porém, para os engenheiros brasileiros isso não foi suficiente. Eles queriam seu próprio carro esporte.
FNM ONÇA. A TENTATIVA DE CRIAR UM ESPORTES BRASILEIRO
Em 1966 o FNM deu o sinal com a apresentação de um protótipo para analisar com pausa: o FNM Onça. Em primeiro lugar, o que mais chama a atenção é a linha do corpo. Uma cópia atrevida da primeira geração do Ford Mustang, lançada apenas dois anos antes. Um estilo bem americano onde se destaca o contraste da característica grelha triangular em que está inserido o emblema da Alfa Romeo. Homenagem feita à casa italiana por dois motivos. A primeira é porque a mecânica do FNM Onça é tirada do mesmo Alfa Romeo 2000 que mencionamos antes.
Um coração de 1 litros, quatro cilindros e 9 CV que animavam este veículo com proporções muito diferentes de qualquer carro esportivo da casa milanesa da época. E aí vem a segunda razão. Porque os da FNM queriam que a Alfa Romeo lhes desse a sua bênção inesperada para a inclusão do Onça na gama não só da empresa brasileira, mas também da italiana, mesmo que fosse apenas para comercializá-lo na América do Sul. A fim de persuadir o Alfa Romeo, A FMN fabricou cerca de cinco protótipos, enviando pelo menos um para Milão para exame da matriz. Exame que, obviamente, foi totalmente suspenso por Onça.
Não era apenas a estética que colocava problemas. Também o chassis, as suspensões de uma certa altura e outros detalhes estavam nos antípodas do que a Alfa Romeo considerava realmente desportivo. Além disso, as qualidades eram desprezíveis, com sérios problemas aerodinâmicos que até estouraram o forro internoà medida que as entradas de ar o direcionavam para as lacunas sem saída dentro do corpo de fibra de vidro. Decepcionado com a experiência, o FNM abandonou o projeto. Também evitando uma demanda mais do que certa da Ford como resultado da cópia óbvia do Mustang.
Hoje acredita-se que apenas três permanecem dos cinco a dez protótipos construídos pelo FNM em 1966. Um exemplo interessante do que poderiam ter sido os Alfa Romeos brasileiros.
Fotografias: FNM