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Mais motor para os anos setenta, o Citroën 3CV na Argentina

O 2CV foi um sucesso global não apenas por sua versatilidade, mas também porque foi vendido em muitos países ao redor do mundo. Um deles foi a Argentina, onde foi produzido pela subsidiária local da empresa francesa, criando uma variante nacional equipada com um motor mais potente. Estamos falando do Citroën 3CV argentino de 1969

Uma das grandes virtudes do Citroën 2CV é ser um carro verdadeiramente global. Não só pela sua versatilidade quando se trata de misturar asfalto e habilidades de pilotagem. Mas, também, por ter sido fabricado em até oito plantas distribuídas entre Europa e América do Sul. Dessa forma, além de contribuir para a motorização das classes populares na França do pós-guerra, este Citroën é uma parte indispensável da memória coletiva em muitos países. Também na Argentina. Onde a marca chevron se instalou como empresa com fábrica nacional em 1960. Iniciando uma aventura empresarial que durou duas décadas até sua absorção pelas Indústrias Eduardo Sal-Lari.

Mas vamos por partes. Na França, o Citroën 2CV começou a ser vendido em 1948. Concebido antes da Segunda Guerra Mundial como um utilitário acessível e simples, ele finalmente viu a luz do pós-guerra para ser um protagonista indiscutível na recuperação econômica. Não só da França, mas também de outros países como a Espanha. E é que, dada a expansão realizada pela Citroën durante os anos cinquenta, a empresa abriu a sua fábrica em Vigo em 1958. Assim, assim como a FIAT, a marca francesa viu a internacionalização como sua principal fonte de lucro para o futuro próximo. Assim, em 1960 fundou sua própria subsidiária na Argentina.

Um país em cujo mercado já estava presente, vendendo unidades do 2CV importadas da França e da Bélgica há anos. Claro que, sendo um veículo estrangeiro, as taxas alfandegárias o tornaram consideravelmente mais caro. Algo profundamente inconveniente para um modelo que tinha duas de suas bandeiras mais identificadoras na economia e o baixo preço de acesso. Por isso, e tal como a Ford fez em 1917 ao criar uma fábrica em Buenos Aires para a montagem do Modelo T, a marca francesa fundada em 1960 Citroën Argentina SA. Tudo isso para administrar a nova fábrica da Jeppener, que logo foi transferida para a de Barracas, em Buenos Aires. O local onde, em 1969, ocorreu a produção do primeiro Citroën 3CV.

Os pneus 3CV aumentaram sua largura. Foto: Munafo

VARIANTES NACIONAIS, UMA CONSTANTE NA AMÉRICA DO SUL

Por mais versátil e global que seja um carro, ninguém desconhece que, dependendo do país, cada design precisa de adaptações. Exigidas tanto por fatores geográficos quanto econômicos, podem ir desde uma melhor proteção contra a ferrugem até o surgimento de modelos nacionais focados em nichos de mercado muito específicos. Por exemplo. Em relação ao primeiro, os corpos do FIAT 127 brasileiro recebeu um tratamento adequado à umidade dos trópicos. E em relação a segunda Volkswagen do Brasil chegou a criar seus próprios modelos como o SP2.

Um carro esportivo tão aparente quanto não é muito potente. Obviamente insuficiente para os parâmetros europeus de atuação, mas bastante digno se analisarmos o estreito nicho reservado ao esporte no Brasil em 1972. Assim, Apontar a existência de uma certa liberdade criativa para as diferentes filiais nacionais dos grandes grupos automobilísticos não é menos banal. Ainda mais se, olhando para a própria Espanha, examinarmos as diferenças entre os Renaults franceses e os produzidos na FASA em Valladolid. Alguns deles relacionados com suspensões devido ao pior estado dos pavimentos ibéricos.

Com tudo isso, o aparecimento em 1969 do Citroën 3CV deve ser entendido como uma interessante operação comercial. Vamos ver. Na Europa, para esse ano, modelos como o 2CV já se enquadravam em nichos de mercado muito específicos. Nichos, digamos, residuais e cada vez mais minoritários. Especialmente juntamente com certos usos do país onde este veículo utilitário teve um desempenho notavelmente bom. Tudo isso pela forma e forma como o crescimento das classes médias urbanas influenciou o automobilismo. Deixando para trás modelos como este ou o 600 à medida que avançava a democratização do consumo.

A instrumentação também é um pouco diferente. Foto: Munafo

No entanto, o caso da Argentina foi diferente. Caracterizado pelo menor acesso à frota móvel por parte das classes populares, seu mercado ainda recebeu veículos extremamente simples e econômicos como o 2CV. Característica que não acabou por apagar uma atualização necessária em termos de potência, uma vez que o trânsito ficou mais intenso, rápido e agressivo. Além disso, dadas as enormes distâncias com que se caracteriza o campo na América do Sul, um motor mais confortável era algo bastante atraente. Dessa forma, embora o Citroën 2CV ainda fosse um carro válido para as classes média e popular no mercado argentino, a atualização que deu origem ao 3CV foi vista como essencial.

O motor, a principal diferença. Foto: Munafo

CITROËN 3CV, MAIS MOTOR PARA NOVOS TEMPOS

O Citroën 2CV tem múltiplos benefícios que são bem conhecidos por qualquer fã de veículos clássicos. No entanto, a verdade é que no final dos anos sessenta o seu motor bicilíndrico já estava ficando um pouco desatualizado. A essa altura, a versão argentina do modelo nunca conseguiu chegar a mais de 18 CV com o deslocamento de 425cc. Ponto em que chegamos à característica principal do Citroën 3CV, já que deslocamento foi aumentado para 602cc podendo entregar até 32CV.

O IES Super America foi a continuação desde 1980, já sob uma empresa de capital argentino integral

Estamos falando de uma melhoria que orbita em torno de 44% mais potência, severamente perceptível na resposta do Citroën 3CV tanto na cidade quanto na estrada. Também, amortecedores hidráulicos incluídos para reduzir o arremesso típico produzido pelo atrito com molas horizontais. Também melhorou o sistema elétrico, passando de ter um dínamo para montar um alternador. Diferenças mecânicas menos visíveis do que as dadas nas portas da frente, que passaram de ter uma abertura suicida para pivotante na frente.

Em relação ao interior, o novo painel foi combinado com os pedais que, no Citroën 3CV, ficavam pendurados em vez de saírem do chão como no 2CV. Em suma, além do motor nosso protagonista recebeu um certo facelift com o qual enfrentar os anos setenta. Algo que tem, desde mais de 76.000 unidades do carro de passageiros e mais de 17.000 da versão van foram produzidas até que as vendas cessaram em 1980. Ano em que a Citroën Argentina SA decidiu fechar devido à contração econômica daquele mercado, vendendo suas instalações para Eduardo Sal Lari. O empresário que, com algumas mudanças estéticas, deu continuidade à produção do Citroën 3CV com o nome de IES Super América. Mas essa é outra história que outro dia contaremos.

Fotografias: PSA / Munafo / IES 

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Escrito por Miguel Sánchez

Através das notícias de La Escudería, percorreremos as sinuosas estradas de Maranello ouvindo o rugido do V12 italiano; Percorreremos a Rota 66 em busca da potência dos grandes motores americanos; vamos nos perder nas estreitas pistas inglesas rastreando a elegância de seus carros esportivos; aceleraremos a frenagem nas curvas do Rally de Monte Carlo e até ficaremos empoeirados em uma garagem resgatando joias perdidas.

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